terça-feira, 9 de março de 2010

Capitão de Abril Costa Martins

Durante as movimentações militares feitas na madrugada de 25 de Abril de 1974, que viriam a aniquilar 48 anos de fascismo, chegavam notícias preocupantes ao Posto de Comando instalado clandestinamente num barracão no Regimento de Engenharia da Pontinha (Lisboa): as tropas da Escola Prática de Infantaria (EPI) que tinham partido de Mafra por volta das 02H00 com a missão de ocupar e controlar o Aeroporto da Portela não transmitiam notícias da sua situação. Face à ausência de informações sobre a situação do aeroporto de Lisboa a operação «Fim-Regime» do movimento dos capitães sofria um contra-tempo, resultando, o adiamento da transmissão do primeiro comunicado que estava previsto ser lido às 04h00. Na verdade, a situação do aeroporto ficaria resolvida por iniciativa do Capitão Costa Martins.

O então capitão Costa Martins realiza um acto heróico que é muitas vezes esquecido. Este capitão sozinho decide entrar no aeroporto e, firmemente, diz ao oficial de dia que: o aeroporto está cercado; os objectivos do Movimento e exige a sua rendição. O bluff de Costa Martins foi bem sucedido, «Nova Iorque» (nome de código do aeroporto) estava tomado. Finalmente, e depois de ter achado o caminho para o Aeroporto (ao que parece a coluna perdeu-se nas ruas de Camarate, se não estou em erro), a coluna militar da EPI dirigida pelo capitão Rodrigues chega ao seu destino. De imediato o capitão Costa Martins dirige-se à torre de controlo e emite um comunicado (NOTAM) que interditava o espaço aéreo português e o desvio do tráfego comercial para Madrid e Las Palmas. Nenhum avião tem ordem para aterrar ou levantar voo, inclusive nas bases aéreas militares. Às 04h20 era transmitida a informação à Pontinha que «Nova Iorque» estava ocupada e controlada.

Natural de Silves, Costa Martins tem um papel preponderante no MFA, tanto, durante os preparativos do fim do regime, no próprio 25 de Abril, como no período revolucionário. O seu nome consta nas 21 nomeações do Conselho de Estado do pós-25 de Abril representado o MFA; é nomeado ministro do Trabalho nos II, III, IV e V Governo Provisório. Como ministro do trabalho teve um papel decisivo na criação do salário mínimo nacional e o 13º mês de ordenado, conquistas laborais que ficariam consagradas na Constituição da República de 1976. Acabou por ser envolvido numa polémica política lançada por sectores de direita sobre o «Dia do Trabalho», onde na qual foi propositadamente acusado de ter ficado com parte de dinheiro referente ao «dia de salário para a nação». Acabou por ser totalmente ilibado destas acusações.

Um dos militares que em 1974 optou por não dormir no dia 25 de Abril para que então o povo português passa-se a dormir melhor consigo mesmo, faleceu no passado dia 7.

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